Catholica 124: São Bernardo de Claraval e a Teologia Monástica da Idade Média
São Bernardo de Claraval (1090-1153) é uma das figuras mais importantes e representativas da Teologia Monástica da Idade Média, sendo um dos principais teólogos e místicos de sua época. Sua vida e suas obras refletem os princípios centrais dessa forma de teologia, profundamente enraizada na contemplação, na espiritualidade prática e na busca do amor divino.
A Teologia Monástica e São Bernardo
A Teologia Monástica medieval, que se desenvolveu principalmente em mosteiros e abadias, priorizava a experiência espiritual e a contemplação em detrimento da sistematização racional característica da teologia escolástica. São Bernardo, como teólogo monástico, seguiu este enfoque, escrevendo obras que buscavam guiar os monges e os fiéis em sua jornada espiritual, em vez de propor sistemas filosóficos.
Uma das práticas centrais da teologia monástica era a Lectio Divina, que envolvia a leitura meditativa das Escrituras e a busca de uma compreensão profunda do mistério divino através da oração e da contemplação. São Bernardo incorporou essa abordagem em suas obras, especialmente em seus Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, nos quais ele expõe uma interpretação mística do texto bíblico, vendo-o como uma metáfora da união entre Cristo e a alma. Esse tipo de exegese espiritual era típico da teologia monástica, que utilizava símbolos e alegorias para expressar as realidades mais profundas da fé.
As Obras de São Bernardo e o Legado Monástico
A teologia de São Bernardo está centrada no amor de Deus e na vida espiritual. Em sua obra "De diligendo Deo" (Sobre o Amor de Deus), ele explora a progressão espiritual do ser humano, desde o amor carnal até o amor espiritual puro por Deus, um tema que ressoa com a espiritualidade monástica, na qual o objetivo era a transformação do indivíduo pela graça divina. Além disso, em "De consideratione" (Sobre a Consideração), dirigida ao Papa Eugênio III, São Bernardo fala da necessidade de conciliar as responsabilidades administrativas da Igreja com a vida contemplativa, reforçando o papel central da contemplação na vida cristã.
A teologia de São Bernardo também era profundamente prática, refletindo a vida ascética e a disciplina monástica. Ele defendia o despojamento e a vida simples, que eram aspectos essenciais da vida monástica, e via a teologia como um caminho para uma vida mais santa e centrada em Deus.
São Bernardo na "Divina Comédia" de Dante
Na "Divina Comédia" de Dante Alighieri, São Bernardo é retratado como a figura máxima da contemplação mística. Ele aparece no Paraíso, no Canto XXXI, guiando Dante na parte final de sua jornada espiritual. A presença de São Bernardo na obra de Dante é um tributo à teologia monástica, pois ele simboliza o estágio mais elevado da espiritualidade cristã – a união direta com Deus, alcançada não pela razão, mas pela contemplação e pelo amor. Sua famosa Oração à Virgem (Canto XXXIII) reforça sua devoção mariana e destaca a importância da intercessão da Virgem Maria na experiência mística.
Conclusão
São Bernardo de Claraval encarna os ideais da Teologia Monástica da Idade Média. Suas obras, repletas de espiritualidade profunda, reflexão sobre o amor divino e devoção contemplativa, influenciaram profundamente a espiritualidade cristã medieval. Ao aparecer na obra de Dante como o guia final para a visão beatífica, ele simboliza a culminação da jornada mística que a teologia monástica propunha: a busca incessante de Deus através do amor, da oração e da contemplação.