Episodio 97. Santo Agostinho, parte 6: Sobre a Trindade

13/04/2024

Santo Agostinho

parte 6: Sobre a Trindade 

"De Trinitate" é uma das obras mais profundas e complexas de Santo Agostinho, um dos principais teólogos e filósofos dos primeiros anos do Cristianismo. Neste tratado, Agostinho explora e elabora sobre a doutrina da Santíssima Trindade, tentando compreender e explicar a natureza de Deus como um ser uno e trino – Pai, Filho e Espírito Santo. A obra, composta por quinze livros escritos ao longo de dezesseis anos (aproximadamente entre 400 e 416 d.C.), reflete o esforço de Agostinho em combater as heresias da época que questionavam a doutrina da Trindade, como o arianismo, que negava a divindade de Cristo. "De Trinitate" é também um exemplo da busca de Agostinho pela verdade através da razão iluminada pela fé, onde ele não hesita em recorrer à filosofia platônica e à exegese bíblica para fundamentar suas argumentações. Nos primeiros sete livros, Agostinho se dedica a refutar argumentos contrários à fé trinitária e a demonstrar a igualdade e consubstancialidade das três pessoas divinas. Utiliza uma variedade de analogias para aproximar o leitor do mistério trinitário, sabendo, contudo, que todas as analogias são imperfeitas ao tentar explicar o divino. Nos livros subsequentes, até o décimo segundo, ele se aprofunda na análise da imagem de Deus presente no homem, principalmente na mente humana. Agostinho sugere que a imagem trinitária pode ser percebida na estrutura da mente, que inclui memória, inteligência e vontade. Ele propõe que essas três faculdades representam uma analogia imperfeita mas útil da Trindade. Nos últimos três livros, a discussão se torna ainda mais mística e contemplativa. Agostinho tenta entender como o homem pode se aproximar do conhecimento de Deus e reflete sobre a visão beatífica – a visão direta de Deus prometida aos fiéis após a morte. A influência de "De Trinitate" estende-se muito além do seu tempo, marcando profundamente a teologia cristã ocidental e a compreensão da natureza de Deus. A obra é vista como um pilar da ortodoxia trinitária e é frequentemente estudada, interpretada e debatida até os dias atuais. É um testemunho da busca intelectual e espiritual de Agostinho, que, através da razão e da fé, procura se aproximar do mistério divino.